quarta-feira, 20 de junho de 2012

A GRAÇA DE GRAÇA RAMOS
                                          Benjamim Batista

       Para se falar do ser humano, mulher, mãe, artista plástica talentosa e professora / doutora Graça Ramos, é preciso falar como quem vai pintando um quadro, desses especiais que um anjo milagroso e atrevido, desenha no céu para ser apreciado aqui na Terra. Sim, porque Graça Ramos se parece com a sua arte. Quando falo da menina nascida na nossa Feira de Santana, filha da professora Maura – que com tanto empenho, ao descobrir os dons precoces da garota inquieta, não mediu esforços dentro do seu salário pequeno de educadora – para vê-la formada, lida e viajada, inteiramente dedicada ao seu poder criativo, lembro-me, no mínimo, só para citar alguns, de Van Gogh que deixou cerca de 800 pinturas, além de algumas centenas de desenhos.
       Os artistas de hoje, vivem mais e podem produzir infinitamente, tanto com o pincel, quanto com as ferramentas das esculturas e com as facilidades do mundo computadorizado. Ligeiramente superando Van Gogh, Graça já fez mais de mil peças, ensinou arte a várias gerações a partir de sua cátedra na Escola de Belas Artes da UFBA e, igual a Vincent recebeu fortes influências de Jean-Francois Millet, assim como do pintor flamenco Peter Paul Rubens – com o colorido alegre de seu estilo barroco.
       Quem, como eu, já viu nossa homenageada pintando na sua Casa / Atelier (e ela consegue falar enquanto pinta, pois, “fala mais do que a Nega do Leite”, como dizemos em Feira), dá para perceber a força do Impressionismo tão forte em Pissarro e Renoir.
       Do mesmo modo que o holandês Van Gogh, Graça congrega no mundo evangélico, levando a sabedoria das escrituras Sagradas e, de alguma forma, sua pintura e sua poesia tentam aproximar o ser humano ao Ser Divino, este sim, o maior artista, criador de tantos mundos e mistérios que estão aquém do nosso entendimento, além de nossa vã filosofia como ensinou William Shakespeare.
       Em 1996, viajando de Paris para Madrid, eis o que escreve nossa poetisa Graça:

       “Desde o alto vejo uma paisagem azul e branca: o céu!
       Flutuando como eu. No lirismo das nuvens, solidão cósmica,
       Integração e desintegração de moléculas.
       O azul ainda é diáfano.
       Como a vida e igual a nós.
       Igual a tudo...”

       Embora a arte de GR facilite nossa apreciação aos trabalhos daquele Gogh que viveu apenas 34 anos, que estudou Teologia em Amsterdã e que foi trabalhar como pregador leigo nas minas de carvão em Borinage na Bélgica, sua obra nos remete também ao seu conterrâneo Raimundo de Oliveira, da Princesa do Sertão, místico por excelência, filho de D. Santa e Arsênio Oliveira e quem teve ou tem o privilégio de apreciar alguns dos quadros de Raimundo, como: Mendigos (aquarela), Cena de mangue (da coleção preciosa de outro feirense ilustre – Dival Pitombo), Figura (óleo sobre madeira), Mulher com Cachimbo (óleo sobre tela) e Figura de Chapéu (óleo sobre madeira) vai notar o vigor, a alma, a influência (consciente ou não) em Graça ramos e entrar em êxtase, pois pintura não se explica, aprecia-se ou não de acordo com o animus de cada um. Em síntese, o estilo gracioso de Graça é único e digno de ser apreciado.
       D. Santa (“duas vezes santa”) no dizer d’outro feirense consagrado, Edivaldo Boaventura e D. Maura, aquela com Raimundo de Oliveira e esta com Graça, concederam ao mundo duas obras de arte e agora, a Câmara de Vereadores da cidade do São Salvador ao outorgar o título honorífico à cidadã Maria das Graças, proposição do nosso confrade na Academia de Cultura da Bahia, vereador Odiosvaldo Bonfim Vigas, aniversariante neste mês de junho no dia 8, dá-nos este presente e conclui emoldurando um quadro humano, justo e bonito de se ver – na presença de seus parentes, amigos, admiradores, colegas e alunos, pois quando a Casa da Cidadania- que deve ser caixa de ressonância da voz do povo é capaz de enxergar u’a menina que veio do interior e virou personalidade do mundo pelos cursos, mestrado e doutorado que fez no exterior, notadamente Estados Unidos e Espanha e lhe entrega tão honrosa comenda, é como se dissesse:
       “Alto lá! Graça Ramos é conhecida e consagrada lá fora, mas antes de tudo é filha da Feira de Santana terra formosa e bendita, paraíso com nome de feira, no dizer imortal de Georgina Erisman, mas é também filha ilustre de Salvador”.
       Há quase 20 Anos, quando o professor Edivaldo Boaventura lançou seu livro Gente da Bahia no então Museu regional, sonho de Assis Chateaubriand e Dival Pitombo naquela cidade Portal do Sertão, tive a oportunidade de saudá-lo na condição de presidente da Academia Feirense de Letras e ele, generosamente e muito emocionado disse que a minha fala foi uma das mais bonitas que já ouviu de presidentes de academias, cujo documentário passo às mãos de Graça que na ocasião, junto com Gil Mário, doou quadros que enriquecem o acervo daquele espaço, hoje Museu de Arte Contemporânea. 20 anos depois confesso: se aquele discurso, mestre e confrade Edivaldo, saiu bem no filme e na foto, é porque eu já sabia que Graça estaria presente à sua terra natal e era meu motivo e inspiração. Eu já a admirava por sua alegria, sua verve poética e artística, por sua argumentação forte, bem parecida com a de Maria Bonita (quantas vezes brigamos e discordamos de pontos de vista) mas ela sempre ali, como está aqui agora: inteira, autêntica, polêmica, intensa, humana e transcendental, igual a sua obra.
       Salve, Graça! Viva Feira de Santana, mãe desta mulher de talento!
       Salve, Salvador, que a adotou na condição de soteropolitana, com tanto carinho e com tanto amor.


*Benjamim   Batista    é   advogado   e   escritor.
Presidente  da  Academia de  Cultura da Bahia,
ex-presidente  da Academia Feirense de Letras
e  membro da  Academia Nacional de Economia
e  Políticas  Sociais, sediada no Rio de  Janeiro.




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