segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Brasileiros criam teste rápido para detectar leucemia

Técnica usa nanopartículas de ouro que são atrídas pelas células cancerosas em circulação no sangue

Grupo da USP de São Carlos espera que método reduza custos; exame não diz qual é o tipo de leucemia


Pesquisadores da USP de São Carlos desenvolveram um método que usa nanopartículas para fazer um diagnóstico rápido da leucemia.

O câncer no sangue é mais trabalhoso de ser identificado porque não há a formação de um tumor sólido. As células cancerosas ficam em circulação. Hoje, apesar de rotineiro e bem estabelecido, o processo é longo e envolve uma série de componentes laboratoriais importados e de alto custo.
"Um dos principais gargalos ao atendimento de saúde no Brasil é o diagnóstico. Se nós criarmos estratégias para que ele seja mais rápido e barato, poderemos salvar vidas", diz Valtencir Zucolotto, do Grupo de Nanomedicina e Nanotoxicologia da USP de São Carlos.
Hoje, há diversos testes de diagnóstico de leucemia, com maior ou menor grau de complexidade. Além de detectar as células cancerosas, exames mais específicos podem informar ainda o subtipo da doença. Quanto mais detalhada for a análise, mais caro o exame. Alguns ultrapassam os US$ 2.000.
Segundo o Zucolotto, o método poderia ser uma alternativa para um diagnóstico rápido para pacientes com suspeita da doença, uma primeira abordagem para ver se há necessidade de fazer exames mais completos.
Para realizar o teste, os cientistas se aproveitaram de uma característica das células cancerosas: a produção excessiva de açúcares.
A partir daí, o grupo isolou em laboratório uma proteína, a jacalina --que, como o próprio nome indica, é extraída da jaca--, que é fortemente atraída por esses açúcares.
"Usando uma proteína de origem vegetal se simplifica mais o processo. Não há necessidade, por exemplo, de usar cultura de bactérias", explica Valeria Maragoni, doutoranda da USP e autora principal do trabalho, que foi publicado na revista especializada "Colloids and Surfaces B: Biointerfaces".
A proteína foi usada então como revestimento em uma nanopartícula: uma bolinha de ouro cerca de mil vezes menor do que a própria célula cancerosa.
Para fazer o teste, os cientistas retiram uma amostra de sangue do paciente e a deixam em contato com as nanopartículas por três horas. Depois, o material é enxaguado e passa por centrifugação.
Por fim, ele é analisado em um microscópio de fluorescência simples.
No microscópio, as células cancerosas são então facilmente identificadas porque, após a ligação com as nanopartículas, elas passam a ter uma coloração fluorescente, enquanto as células saudáveis não têm modificação.
Por enquanto, o trabalho está restrito a pequenas escalas em laboratório, mas os cientistas buscam parceiros para transforma-lo em uma opção real de diagnóstico.
O grupo já fez o pedido de patente da técnica.

LONGO CAMINHO

Para Fernando Augusto Soares, diretor de Anatomia Patológica do A.C. Camargo Cancer Center, o estudo dos açúcares das células cancerosas é um caminho muito promissor. Ele ressalta, porém, que o estudo do grupo da USP ainda é muito inicial.
"É um ambiente controlado de laboratório, diferente do diagnóstico 'da vida real'. Isso ainda me parece distante de uma aplicação."
O hematologista Carlos Chiattone, professor de medicina da Santa Casa de São Paulo, diz que não basta identificar se o paciente tem ou não leucemia. É importante investigar as características do câncer em cada indivíduo.
"Conhecendo isso podemos fazer um tratamento mais individualizado, cada vez mais efetivo e com menos efeitos colaterais."



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