Objetivo do método é desligar resposta autoimune que faz o próprio corpo atacar células produtoras de insulina.
Voluntários que receberam o tratamento durante 12 semanas tiveram melhora, mas só temporária.
Em busca de uma nova arma contra o diabetes tipo 1, forma da doença que
costuma afetar crianças e adolescentes, cientistas da Holanda e dos EUA
desenvolveram uma espécie de vacina às avessas, projetada para amansar o
sistema de defesa do organismo.
A estratégia faz sentido porque essa forma de diabetes surge quando o
corpo do próprio paciente se volta contra ele, destruindo as células do
pâncreas que produzem o hormônio insulina.
Com cada vez menos insulina em seu organismo, o paciente se torna
incapaz de controlar os níveis de açúcar no sangue, o que pode levá-lo à
morte se ele não repuser o hormônio com frequência.
A nova abordagem conseguiu impedir que o pâncreas dos pacientes sofresse
mais danos e, em alguns casos, parece ter feito com que o organismo
deles aumentasse sua produção natural de insulina. Além disso, as
células de defesa que estavam atacando as "fábricas" do hormônio
passaram a sumir.
Esses efeitos positivos acabaram passando três meses depois das 12
semanas de tratamento experimental, mas os autores da pesquisa pretendem
verificar se é possível obter efeitos mais duradouros com um tempo
maior de terapia.
DNA
O estudo, coordenado por Bart Roep, da Universidade de Leiden, na
Holanda, está na edição desta semana da revista especializada "Science
Translational Medicine".
Em essência, o que os pesquisadores criaram é uma vacina de DNA "ao
contrário".
Grosso modo, vacinas funcionam apresentando ao sistema imunológico (de
defesa) um exemplo do inimigo que ele precisa enfrentar (como bactérias
enfraquecidas ou fragmentos de um vírus).
Com base nessa pista, o sistema de defesa se prepara, fabricando
anticorpos ou células para atacar tal adversário.
No diabetes tipo 1, esse sistema falha, e um dos erros é que certas
células de defesa, os linfócitos T CD8, põem-se a destruir as células
produtoras de insulina do pâncreas. A intenção dos pesquisadores era
aumentar a tolerância do sistema imune dos doentes à insulina e evitar
esse ataque suicida.
"Imagine um pit bull ou outro cão bravo. Se ele for criado comigo desde
pequeno, perco o medo", compara o médico Carlos Eduardo Couri,
especialista em diabetes da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão
Preto.
Para conseguir isso, Roep e companhia injetaram, num grupo de 80
pacientes, um fragmento sintético de DNA, no qual havia o gene que
contém a receita para a produção da proinsulina (matéria-prima da
insulina).
Eles alteraram ligeiramente as "letras" químicas dessa receita, no
entanto, de modo que o sistema imune encarasse de forma mais calma a
molécula. Deu certo, ao menos temporarivamente.
Couri lembra que a técnica apresenta limitações.
"Os pacientes em geral são diagnosticados quando o pâncreas já perdeu
entre 70% e 80% da capacidade."
O pesquisador da USP aponta também que em nenhum momento os pacientes do
estudo internacional puderam dispensar o uso da insulina. "Tudo isso
leva a gente a crer que é preciso ser muito mais agressivo para
conseguir um avanço real."
Técnica avaliada no Brasil para tratar diabetes usa células-tronco
Carlos Eduardo Couri, da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, integra um grupo de pesquisa que já obteve resultados importantes com quimioterápicos que "desligam" totalmente o sistema imune dos pacientes com diabetes.
Depois do tratamento com remédios, os doentes recebem células-tronco de
sua própria medula óssea, com o intuito de "reiniciar" seu sistema de
defesa.
De 25 pacientes, 18 chegaram a ficar alguns anos livres das doses de
insulina, embora a maioria tenha precisado voltar à medicação. "Estamos
planejando publicar novos dados sobre essa estratégia em breve", conta.
Apesar de ver limitações na técnica que usa a vacina às avessas contra o
diabetes, Couri diz que o bom grau de segurança mostrado no novo estudo
sugere que a estratégia pode ter efeito preventivo.
Esse efeito seria obtido se a vacina fosse aplicada em parentes próximos
de diabéticos que já possuem, em seu organismo, anticorpos contra
componentes do pâncreas. Assim, essas pessoas evitariam desenvolver a
doença.
Fonte: Folha de São Paulo
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