terça-feira, 8 de outubro de 2013

SUPERBACTÉRIAS EVOLUEM EM TODO O MUNDO E DESAFIAM A CIÊNCIA

Especialista revela que não existe um sistema de monitoramento adequado dessas infecções e, ainda, é preciso melhorar muito a situação, a limpeza e os demais procedimentos de biossegurança dos hospitais no país.
Considerado um problema de saúde pública mundial, as superbactérias têm chamado a atenção de pesquisadores e infectologistas. Segundo relatório divulgado pelo centro de Controle e Prvenção de doenças dos Estados Unidos (CDC), as superbactérias continuam se desenvolvendo em um ritmo alarmante, muito mais rápido do que conseguem evoluir a biologia sintética e as indústrias farmacêuticas.
O momento é de cuidado. A proliferação desses organismos recebeu atenção especial durante o VIII Congresso Brasileiro de Biossegurança, realizado no Othon Palace Hotel e que terminou ontem.
“Se essa é uma situação preocupante no resto do mundo, o panorama do Brasil é ainda mais grave. Não conseguimos fazer o levantamento em nenhum hospital do País. O que existem são estudos pontuais sobre a evolução dessas superbactérias”, alertou a médica Leila Macedo, presidente da Associação Nacional de Biossegurança (ANBio), entidade responsável pelo evento. De acordo com a médica, não existe um sistema de monitoramento adequado dessas infecções e, ainda, é preciso melhorar muito a situação, a limpeza e os demais procedimentos de biossegurança dos hospitais no país.
“Humanamente, na estamos conseguindo acompanhar o ritmo dos organismos que já existem, pois eles se tornaram resistentes aos nossos medicamentos. A multiplicação das superbactérias é muito fácil, e é preciso que haja controle dos centros de saúde”, explica. “Quando uma pessoa adquire uma superbactéria, e não existe um medicamento que possa impedir o crescimento dela, o acompanhamento é essencial, pois qualquer coisa que ela faça pode espalhar a doença”, esclarece. A especialista aponta que as infecções hospitalares são uma triste realidade no Brasil e que é preciso estabelecer uma política de Biossegurança.
Segundo Leila Macedo, a Lei de Biossegurança existente não contempla as infecções hospitalares. “A nossa Lei é muito eficaz para a biotecnologia, mas é preciso ter mecanismos para os outros setores, como para o controle da segurança dos hospitais, dos laboratórios e de acesso a material biológicos de risco”, pontua. Segundo ela, tudo que envolve organismos biológicos deve receber cuidado especial.
MUTAÇÃO
Por muito tempo, o uso indiscriminado dos antibióticos foi negligenciado pela população e pelas autoridades de saúde. O resultado desse longo período de abusos foi a  mutação das bactérias. Muitas se tornaram resistentes à maioria dos antibacterianos convencionais disponíveis no mercado, existindo até mesmo casos de resistência total – de onde veio a denominação super.
Atualmente, as superbactérias mais temidas são a MRSA (Staphylococcus Aureus resistente à meticilina) KPC (Klebsiella Pneumoniae Carbapenemase) e a NDM-1 (New Delhi mettalo-B-lactamase-1), esta última responsável pelas recentes infecções hospitalares em hospitais de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.
É importante ressaltar que desde a descoberta da penicilina, as bactérias têm sofrido mutações”, explica Jean Gorinchteyn, infectologista do Instituto da Infectologia Emílio Ribas. Elas querem sobreviver a qualquer custo e sob qualquer condição, por isso adquirem a capacidade de transmitir códigos genéticos entre si e para outras bactérias de outra espécie começam a neutralizar os antibióticos. Elas podem destruir o antibiótico com que entraram em contato, podem expulsar o medicamento da célula ou até mesmo inativá-lo”, explica o infectologista.
INFECÇÃO HOSPITALAR ESTÁ RELACIONADA À DEFICIÊNCIA IMUNOLÓGICA
Muitos pacientes com a imunidade fragilizada são preventivamente tratados com antibióticos
Erra quem pensa que as pessoas afetadas pelas bactérias resistentes são somente aquelas que se medicaram freqüentemente com antibióticos,  seja ele prescrito pelo médico ou administrado por decisão própria, a conhecida automedicação. A maioria dos casos de infecção hospitalar é causada por bactérias endógenas, ou seja, por aquelas que carregamos naturalmente no organismo.
Um exemplo disso é a Escherichia coli (E. Coli), que habita o intestino. Quando ela migra para outras partes do corpo provoca uma infecção difícil de tratar.
“Se algumas bactérias do intestino vão para o trato genital, por exemplo, podem causar infecções. Para serem consideradas bactérias boas, elas têm de permanecer no lugar que foi designado a elas, explica Gorinchteyn. No caso hospitalar, a infecção acontece, na maior parte dos casos, o paciente que já está internado há algum tempo, já tomou muitos antibióticos e tem o sistema imunológico fragilizado. Muitos pacientes com a imunidade fragilizada são preventivamente tratados com antibióticos, para evitar que as bactérias internas se manifestem, caso contrário ele será literalmente atacado por um “fogo amigo”. Os outros casos causados por bactérias que não vivem no corpo, considerados minoria em relação às bactérias que já carregamos, já têm a atenção dos hospitais, que trabalham para minimizar qualquer tipo de surto ou infecção. Muitos hospitais já têm UTI com controle da pressão do ar, uma medida para evitar a disseminação de bactérias.
“Se alguém estiver com tuberculose, eliminando bactérias para o ar, o paciente ficará em um quarto com pressão negativa. Quando a porta se abre, o ar de fora entra. Se o ar sair, as bactérias podem sair junto, contaminando outros espaços”, explica o diretor do departamento de infectologia do Hospital Heliópolis (SP), Juvêncio Furtado.
NOVAS REGRAS
Há pouco mais de um ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) regulamentou a venda de antibióticos. O medicamento só pode ser vendido mediante a apresentação e retenção da receita, que vale somente por 10 dias, além de outras normas de controle. Segundo Jean Gorinchteyn, além da restrição da Anvisa, médicos estão recebendo orientação sobre a prescrição racional dessa classe de remédios.
O infectologista esclarece que ninguém pega uma bactéria simplesmente por andar na rua. “Elas (as bactérias) precisam de uma porta de entrada. Para pegar uma infecção, a pessoa precisa ter um machucado, ou levar a mão com a bactéria à boca ou por meio de soluções não estéreis injetadas no sangue”, explica.
Para prevenir o contágio por bactérias é importante lavar as mãos com frequência, evitar coloca-las em contato com boca, nariz, olhos e ouvidos quando estão sujas e manter o corpo descansado e bem alimentado – isso ajuda o sistema imunológico a se manter forte para lutar contra qualquer visitante indesejado. É um mito a história de que pessoas saudáveis que visitam doentes em hospitais contraem superbactérias”, esclarece o médico.
Fonte: Tribuna da Bahia

 

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