Especialista revela que não
existe um sistema de monitoramento adequado dessas infecções e, ainda, é
preciso melhorar muito a situação, a limpeza e os demais procedimentos de
biossegurança dos hospitais no país.
Considerado um problema de saúde
pública mundial, as superbactérias têm chamado a atenção de pesquisadores e
infectologistas. Segundo relatório divulgado pelo centro de Controle e Prvenção
de doenças dos Estados Unidos (CDC), as superbactérias continuam se
desenvolvendo em um ritmo alarmante, muito mais rápido do que conseguem evoluir
a biologia sintética e as indústrias farmacêuticas.
O momento é de cuidado. A
proliferação desses organismos recebeu atenção especial durante o VIII Congresso
Brasileiro de Biossegurança, realizado no Othon Palace Hotel e que terminou
ontem.
“Se essa é uma situação
preocupante no resto do mundo, o panorama do Brasil é ainda mais grave. Não
conseguimos fazer o levantamento em nenhum hospital do País. O que existem são
estudos pontuais sobre a evolução dessas superbactérias”, alertou a médica
Leila Macedo, presidente da Associação Nacional de Biossegurança (ANBio),
entidade responsável pelo evento. De acordo com a médica, não existe um sistema
de monitoramento adequado dessas infecções e, ainda, é preciso melhorar muito a
situação, a limpeza e os demais procedimentos de biossegurança dos hospitais no
país.
“Humanamente, na estamos
conseguindo acompanhar o ritmo dos organismos que já existem, pois eles se
tornaram resistentes aos nossos medicamentos. A multiplicação das
superbactérias é muito fácil, e é preciso que haja controle dos centros de
saúde”, explica. “Quando uma pessoa adquire uma superbactéria, e não existe um
medicamento que possa impedir o crescimento dela, o acompanhamento é essencial,
pois qualquer coisa que ela faça pode espalhar a doença”, esclarece. A
especialista aponta que as infecções hospitalares são uma triste realidade no
Brasil e que é preciso estabelecer uma política de Biossegurança.
Segundo Leila Macedo, a Lei de
Biossegurança existente não contempla as infecções hospitalares. “A nossa Lei é
muito eficaz para a biotecnologia, mas é preciso ter mecanismos para os outros
setores, como para o controle da segurança dos hospitais, dos laboratórios e de
acesso a material biológicos de risco”, pontua. Segundo ela, tudo que envolve
organismos biológicos deve receber cuidado especial.
MUTAÇÃO
Por muito tempo, o uso
indiscriminado dos antibióticos foi negligenciado pela população e pelas
autoridades de saúde. O resultado desse longo período de abusos foi a mutação das bactérias. Muitas se tornaram
resistentes à maioria dos antibacterianos convencionais disponíveis no mercado,
existindo até mesmo casos de resistência total – de onde veio a denominação
super.
Atualmente, as superbactérias
mais temidas são a MRSA (Staphylococcus Aureus resistente à meticilina) KPC
(Klebsiella Pneumoniae Carbapenemase) e a NDM-1 (New Delhi
mettalo-B-lactamase-1), esta última responsável pelas recentes infecções
hospitalares em hospitais de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.
É importante ressaltar que desde
a descoberta da penicilina, as bactérias têm sofrido mutações”, explica Jean
Gorinchteyn, infectologista do Instituto da Infectologia Emílio Ribas. Elas
querem sobreviver a qualquer custo e sob qualquer condição, por isso adquirem a
capacidade de transmitir códigos genéticos entre si e para outras bactérias de
outra espécie começam a neutralizar os antibióticos. Elas podem destruir o
antibiótico com que entraram em contato, podem expulsar o medicamento da célula
ou até mesmo inativá-lo”, explica o infectologista.
INFECÇÃO HOSPITALAR ESTÁ
RELACIONADA À DEFICIÊNCIA IMUNOLÓGICA
Muitos pacientes com a imunidade
fragilizada são preventivamente tratados com antibióticos
Erra quem pensa que as pessoas
afetadas pelas bactérias resistentes são somente aquelas que se medicaram
freqüentemente com antibióticos, seja
ele prescrito pelo médico ou administrado por decisão própria, a conhecida
automedicação. A maioria dos casos de infecção hospitalar é causada por
bactérias endógenas, ou seja, por aquelas que carregamos naturalmente no
organismo.
Um exemplo disso é a Escherichia
coli (E. Coli), que habita o intestino. Quando ela migra para outras partes do
corpo provoca uma infecção difícil de tratar.
“Se algumas bactérias do
intestino vão para o trato genital, por exemplo, podem causar infecções. Para
serem consideradas bactérias boas, elas têm de permanecer no lugar que foi
designado a elas, explica Gorinchteyn. No caso hospitalar, a infecção acontece,
na maior parte dos casos, o paciente que já está internado há algum tempo, já
tomou muitos antibióticos e tem o sistema imunológico fragilizado. Muitos
pacientes com a imunidade fragilizada são preventivamente tratados com
antibióticos, para evitar que as bactérias internas se manifestem, caso
contrário ele será literalmente atacado por um “fogo amigo”. Os outros casos
causados por bactérias que não vivem no corpo, considerados minoria em relação
às bactérias que já carregamos, já têm a atenção dos hospitais, que trabalham
para minimizar qualquer tipo de surto ou infecção. Muitos hospitais já têm UTI
com controle da pressão do ar, uma medida para evitar a disseminação de
bactérias.
“Se alguém estiver com
tuberculose, eliminando bactérias para o ar, o paciente ficará em um quarto com
pressão negativa. Quando a porta se abre, o ar de fora entra. Se o ar sair, as
bactérias podem sair junto, contaminando outros espaços”, explica o diretor do
departamento de infectologia do Hospital Heliópolis (SP), Juvêncio Furtado.
NOVAS REGRAS
Há pouco mais de um ano, a
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) regulamentou a venda de
antibióticos. O medicamento só pode ser vendido mediante a apresentação e
retenção da receita, que vale somente por 10 dias, além de outras normas de
controle. Segundo Jean Gorinchteyn, além da restrição da Anvisa, médicos estão
recebendo orientação sobre a prescrição racional dessa classe de remédios.
O infectologista esclarece que
ninguém pega uma bactéria simplesmente por andar na rua. “Elas (as bactérias)
precisam de uma porta de entrada. Para pegar uma infecção, a pessoa precisa ter
um machucado, ou levar a mão com a bactéria à boca ou por meio de soluções não
estéreis injetadas no sangue”, explica.
Para prevenir o contágio por
bactérias é importante lavar as mãos com frequência, evitar coloca-las em
contato com boca, nariz, olhos e ouvidos quando estão sujas e manter o corpo
descansado e bem alimentado – isso ajuda o sistema imunológico a se manter
forte para lutar contra qualquer visitante indesejado. É um mito a história de
que pessoas saudáveis que visitam doentes em hospitais contraem superbactérias”,
esclarece o médico.
Fonte: Tribuna da Bahia
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