Superbactéria KPC coloca em risco a vida
dos doentes graves nos hospitais
Esses microorganismos podem causar doenças fatais em pacientes graves
internados em hospitais e/ou que usam home care. Por isso, portadores ficam
isolados para que os profissionais de saúde não os passem a outros doentes e os
visitantes são obrigados a higienizar as mãos antes e ao final das visitas.
Isso é fundamental para baixarmos o número de contaminações e também de óbitos.
Nos últimos anos, de vez em
quando a superbactéria Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC) ganha espaço
na mídia do País devido ao surgimento de novos casos de contaminação ou porque
causa surto em algum hospital. As bactérias do gênero Klebsiella, vale
destacar, são comuns. Existem muitas espécies. Elas vivem no intestino humano
junto com outras. Uma das características das Klebsiella é que sãocapazes de
sair daquele órgão, provocar outras áreas e provocar infecções – as mais
freqüentes são infecções urinárias, meningite,
pneumonia e septicemia, ou seja, infecção generalizada.
As Klebsiella tanto podem sair
dos intestinos e ir para outros órgãos, em portadores de doenças como diabetes
e insuficiência renal, quanto, principalmente mulheres, atingir o trato
urinário quando elas, depois de defecar, se higienizam ou são higienizadas de
maneira incorreta, levando fezes do ânus à vagina, que são bem próximos.
Outra característica das
Klebsiella, como de quase todas as bactérias, é que são “solidarias”. Quando
uma “aprende” a desenvolver resistência contra antibióticos, todas as que
convivem com ela em um determinado momento também vão “aprendê-lo”. Elas vão
trocando material genético entre si até adquirirem a mesma resistência.
Foi desse modo que surgiu a
superbactéria KPC, ou Klebsiella pneumoniae produtora de carbapenemase, enzima
que inativa todos os antibióticos carbapenêmicos, ou 95% das mais modernas
destas substâncias essenciais ao combate às doenças causadas por bactérias.
A KPC teria surgido na Ásia pelo
uso inadequado e indiscriminado de antibióticos. Foi decretada nos Estados
Unidos em 2003, na França em 2005 e no Brasil em 2006, no Recife. Já se
espalhou para vários outros Estados. Um surto em Brasília em 2010, com mortes,
levou o Ministério da Saúde a apertar o cerco ao consumo indiscriminado de antibióticos,
com a retenção da receita pelas farmácias no ato da compra, e exigir que
hospitais e clínicas disponibilizem álcool em gel ou líquido em todos os
ambientes onde pacientes recebem tratamento, para impedir a propagação da KPC e
das outras superbactérias.
A KPC em geral não representa
problema para pessoas comuns, saudáveis. Mas coloca em risco a vida dos pacientes graves internados por
longos períodos em hospitais ou que façam uso de home care. São pessoas que
estão muito debilitadas, e/ou tomaram vários ciclos de antibióticos, e/ou são
invadidas frequentemente por tubos, cateteres e
sondas. Quem passa 10 dias em UTI, mostram as pesquisas, tem risco cinco
vezes maior de contrair uma superbactéria.
Por isso, portadores de
superbactérias precisam ficar isolados para que os profissionais de saúde não
as leves a outros doentes. Também por isso, o ideal é que só um grupo de
profissionais cuide de tais pacientes, sempre de luvas e com avental. Ao
término do expediente, de outro lado, devem tomar banho e lavar as suas roupas
com produtos anticontaminantes. Jamais podem sair do hospital de uniforme, por
exemplo, e ir atender a um doente em home care. Visitantes dos pacientes,
enfim, devem lavar as mãos com água e sabão e higienizá-las com álcool ao chegar
e sair dos hospitais. Só assim baixaremos o número de óbitos dos portadores das
superbactérias, que hoje supera os 50%.
Fonte:
Revista Caras – Artur Timerman, infectologista na capital paulista, é médico do
Hospital Israelita Albert Einstein e chefe do Setor de Controle de Infecções
Hospitalares do Hospital Professor Edmundo Vasconcelos. E-mail: Artur.timerman@globo.com
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