Brasil relaxou no controle da AIDS, afirma manifesto
Dados do Ministério da Saúde apontam que o numero de
mortes no pais cresceu 8,8%
Para pesquisador, situação não seria esperada se
houvesse política eficaz e diagnóstico precoce
Manifesto
lançado ontem por 14 instituições e 54 pesquisadores e ativistas do movimento
anti-Aids aponta sérios problemas no controle da doença no país. Entre eles
estão o aumento no numero de casos e de mortes.
Dados
do Ministério da Saúde mostram que o numero de casos passou de 33.166, em 2005,
para 37.210, em 2010 (aumento de 12%). No mesmo período, as mortes pulararm de
11.100 para 12.073 (aumento de 8,8%).
“Não
é uma situação esperada. Com a melhoria do tratamento, deveríamos estar
reduzindo o numero de óbitos. Se tivéssemos uma política de prevenção efetiva,
não teríamos tantos casos novos”, afirma Alexandre Grangeiro, pesquisador da
USP que assina o manifesto.
O
diagnostico tardio, verificado em mais da metade dos pacientes, é apontado como
a principal causa para o aumento de mortes.
“Uma
pessoa sem tratamento tem mais risco de morrer e de transmitir o vírus para
outras. Em tratamento, ela reduz em 94% as chances de infectar outras pessoas.”
Segundo
Grangeiro, o Brasil tem uma epidemia muito especifica, com 90% dos casos concentrados
em 400 municípios, e em crescente aumento de casos entre a população jovem, que
está iniciando a vida sexual.
Para
Vera Paiva, coordenadora do Núcleo de Estudos para a Prevenção da AIDS (USP), é
preciso reverter a “banalização” da AIDS.
“Os
pesquisadores estão mostrando que o povo acha que não precisa mais usar
camisinha, que é coisa de gente velha. E o vírus parou de circular? De jeito
nenhum.”
Paiva
afirma que é preciso baixar a curva da doença, estabilizada em patamar mais
alto do que deveria, em sua avaliação. E que essa é uma questão a ser resolvida
por diferentes governos. “Não é um problema especifico do governo federal, é
nacional.”
CRÍTICAS
Considerado
uma referência mundial, o programa brasileiro de DST/AIDS tem sido bastante
criticado.
No
mês passado, durante uma conferencia internacional em Washington, pesquisadores
fizeram alertas sobre a falta de médicos, leitos e exames para os pacientes com
HIV e de medicamentos para tratar doenças causadas pelos antirretrovirais.
Durante
o evento, o coordenador de HIV/AIDS da Opas (Organização Panamericana da
Saúde), Massimo Ghidinelli, disse que o aumento da pressão de grupos religiosos
e a redução das campanhas de prevenção dedicadas às populações de maior risco
são a principal ameaça ao programa brasileiro.
“O
programa precisa mudar e se adaptar rapidamente a esses novos desafios da
epidemia e manter um grande enfoque nas populações vulneráveis”, afirmou.
> OUTRO LADO <
Secretário
diz que numero de casos é estável
O secretário de vigilância em saúde do Ministério da
Saúde, Jarbas Barbosa, questionou a leitura dos dados da AIDS feita pelo
manifesto.
“O óbito aumentou entre aspas. A população aumentou
então a taxa de mortalidade está estabilizada.”
Ele faz o mesmo raciocínio para o numero de casos da
doença e diz que a taxa de incidência caiu nitidamente no Sudeste, onde a
epidemia está consolidada.
E isso, continua, mesmo com o maior numero de
testagens feitas para o HIV.
Sobre o percentual de gestantes com o vírus em
tratamento, Barbosa afirma que dados de 2011 mostram que também há
estabilidade.
Ele diz que é preciso fazer uma análise epidemiológica
mais aprofundada dos números. E argumenta que os dados da doença no Brasil são
bons frente a países com características semelhantes.
Segundo o secretário, a política de AIDS é aberta no
país, discutida periodicamente com especialistas e a sociedade civil. “Algumas
questões que eles colocam como inquietações são compartilhadas, estamos fazendo
políticas para atendê-las.”
As preocupações, diz, são a aproximação com os grupos
mais vulneráveis (como jovens gays) e testes precoces para a doença.
Fonte:
Jornal Folha de São Paulo do dia 22 de agosto de 2012
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